FICÇÃO

Como já havia dito em um post anterior, o poema, aqui postado, foi o primeiro texto deste autor a ser publicado.

Sob o título “Ficção” ele foi posteriormente premiado em concursos literários nas cidades de Capivari e Indaiatuba, obtendo também Menção Honrosa no Mapa Cultural Paulista 2005.

Ficção

Se me perguntam por que minto,
Digo que não minto.
Respondo, ainda titubeante, que faço ficção.
Se minto, não minto palavras,
Não minto desfechos,
Mas apenas suscito situações,
Recrio lugares, carrego cores,
Interpreto frases impensadas,
Salpico ora silêncio ora interjeições
Exagerando nas vírgulas
E omitindo pontos finais
Não me parece muito claro,
Não me parece nada humano
Estes conversês que afirmam.
No meu pulso primordial
Há ânsia por intervalos intermitentes,
Quase não vejo palavras
Na audição do silêncio consecutivo,
Quase mesmo e apenas reajo
Ao movimento que me confunde
Em atitude e traço,
E se não faço, com força desejo
O que só me é dado desejar.
Não uma exclamação plena
De cansaço e sentido desbotados,
Mas algo como ar comprimido nos pulmões,
A interrogação anterior a cada palavra,
Encadeadora de toda letra,
Propulsora do traço e do aproximar-se.
Deter-me nela é, num só tempo,
Lançar-me num movimento de vírgula,
E apontar um mentiroso
Por detrás de cada ponto final.

Cláudio Guilherme Alves Salla
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~ por C. Guilherme A. Salla em 21/06/2008.

Uma resposta to “FICÇÃO”

  1. […] poema publicado (Ficção) era um prenúncio. Toda a poesia é um prenúncio… (clique aqui e leia o eco […]

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